sábado, 28 de fevereiro de 2015

Entrevistamos a Séchu Sende

Neste mês de fevereiro, entrevistamos ao escritor Séchu Sende (Padrom, 1972).

Pergunta. Qual foi o motivo que te levou a escrever?

Resposta. Comecei a escrever porque gostava de ler. Lia e Lia sem parar e, um dia, na escola, escrevim um conto e gostou muito. Isso deveu ser quando tinha onze ou doze anos e vivia em Noia. Eu nascim em Padrom, e lera alguns poemas de Rosalía de Castro e, dalgum jeito, gostava do mundo das palavras e via a Rosalía mui próxima. Mais adiante, com dezasseis anos, descobrim outras emoçons na escrita ao escrever as primeiras cartas de amor a umha moça. Logo, fruto do desamor, escrevim uns poemas e enviei-nos a um concurso, e foram premiados. Isso foi outra motivaçom importante. Ademais, paralelamente a todo este processo, eu ia descobrindo cousas: eu, que era um rapaz castelhano-falante, que fora educado para falar castelhano e que aprendera a nom falar galego (porque isso é algo que se aprende, na escola e fora da escola), fum experimentando um câmbio pessoal e figem-me galego-falante aos dezassete anos. Daquela, o mundo cambiou. De súpeto, descobrim um mundo cheio de creatividade e de positividade.

P. Qual foi a resposta do teu pai/mãe?

R. O certo é que tivem sorte, porque ganhei vários prémios literários e o meu pai e a minha mãe sentiam-se orgulhosas de ter um filho ao que lhe reconheciam umha determinada habilidade, a de combinar palavras. Ademais, os dous provinham de famílias humildes e galego-falantes. E eu, ao longo da minha infância e da minha mocidade, observei nelas e noutras adultas como se manifestava a diglossia. Lembro à minha mãe falando galego coa sua família e coas suas amigas, mas, quando falava connosco, cos filhos, ou com alguém de traje e de gravata, se passava ao castelhano… Aquilo parecia-me tam injusto… Assim que quando dei o passo de botar-me a falar galego tam novinho, e decidim que a minha vida ia estar ligada à língua, e que, com ela da mão, ia trabalhar polo meu bem e polo bem comum do meu país, isso surpreendeu-nos muito. Nom o esperavam. Elas pensavam que o melhor para mim era falar a língua mais prestigiada, a língua da «casta», diria-se hoje, o castelhano, e por isso educaram-me nessa língua, porque pensavam que era a melhor língua para ascender socialmente. E eu, claro, como muita outra gente que nos figemos neo-falantes na mocidade, queria, simplesmente, ser galego falando a língua que, curiosamente, outra gente rejeitava por umha carga histórica de prejuízos e de estereótipos. O mais normal, o que se esperava de mim, e de muitas rapazas castelhano-falantes, era que seguíssemos falando castelhano, por inércia. Mas tivemos a sorte de poder escolher, e escolhemos a língua própria do país.

P. Qual das tuas obras consideras a melhor?

R. Isso é difícil de decidir. E suponho que nom deveria ser eu quem julgasse as minhas obras. Tenho dias nos que gosto mais de O caçador de bruxas [2011]; outros dias som mais de Animais [2010], outros, de Made in Galiza [2007] ou das outras… Cada umha foi escrita numhas circunstâncias, cumhas motivaçons singulares. Entre elas som mui distintas… Algumha é mais conhecida publicamente, ou tem mais capacidade de transformaçom social, como Made in Galiza, e outras, menos. Mas o valor dumha obra nom depende só do número de leitoras nem da sua capacidade transformadora. Depende doutras muitas cousas, e valorar o conjunto, para mim, é difícil.

P. Que é o mais satisfatório da tua faceta de escritor?

R. Pois talvez seja, entre outras cousas, ter a sorte de poder expressar-me livremente e que do outro lado haja alguém, umha pessoa, dez ou mil, que compartem comigo esse processo comunicativo, criativo, de transformaçom pessoal e coletiva. Todas as pessoas mudamos esta sociedade coas nossas atitudes, coa nossa participaçom, coas nossas relaçons sociais, coas nossas afetividades, co nosso trabalho… Eu gosto de pensar que, como qualquer outra pessoa, estou a achegar o meu grão de areia para que o mundo seja mais fermoso, mais feliz, mais justo, mais rebelde, mais insubmisso, mais crítico e mais nosso, da gente de abaixo.

P. Qual é a tua escritora e a tua obra favoritas?

R. Ui! Admiro a muita gente e muitas obras. Na minha adolescência, flipei com Suso de Toro, com Pepetela, com Guy de Maupassant, com Edgar Allan Poe, com Reinaldo Arenas, com Xosé Luís Méndez Ferrín… Daquela, por exemplo, ainda nom conhecia a literatura de muitas mulheres, porque estavam (e estám) menos acessíveis; mas, depois, alucinei com Gioconda Belli, com Marjane Satrapi ou coas mulheres da minha geraçom, que conhecim ao chegar a Compostela, como María Lado, Yolanda Castaño, Lupe Gómez ou Olga Novo, entre muitas outras que agora esqueço...

P. Estás a trabalhar nalgum novo projeto?

R. Estou com várias cousas, porque temos muito trabalho que fazer. Se queremos mudar este país, temos que ser trabalhadorinhas… Assim que estou a preparar um livro de viagem (Viagem a Goa), umha traduçom do poeta basco Joseba Sarrionandia, um livro de relatos que talvez se titule A fórmula da liberdade e algumha outra cousa… Ademais, como ativista, estou a colaborar em Semente, um projeto de escolas em galego que criou o movimento social para que as nossas filhas tenham ensino em galego, normalmente. As nenas galego-falantes deixam de falar a sua língua quando entram no ensino convencional, público ou privado. E muitas nenas castelhano-falantes nom adquirem competências em galego e só o falam de forma mui restrita, nas aulas de língua galega e pouco mais. A raiz das reformas do PP [Partido Popular], mesmo começa a haver nenas que nom tenhem habilidades comunicativas fluidas em galego. Este sistema está a privar às galego-falantes do direito a formar-se na sua língua e às castelhano-falantes do direito de ser competentes em galego. Assim que como a esta Administraçom lhe parece que isso é o normal e nom lhe preocupa, mas a muita outra gente ao contrário, pois decidimos criar as nossas próprias escolas, que financiamos vendendo camisolas, montando festivais e concertos, e criando rede social em defensa da imersom linguística. Sabemos que a imersom linguística é o melhor método para adquirir competências linguísticas em sociedades como a nossa.

P. Como vês a situaçom atual da língua galega?

R. Penso que, desde hai muitos anos, hai interesse, por parte da maioria dos agentes políticos, de que a nossa língua fique minorizada, discriminada. Desde o Estado espanhol, por exemplo, hai um grande interesse por unificar linguísticamente o Estado em base ao seu projeto nacionalista espanhol. Esse nacionalismo, ou pequeno-imperialismo, espanhol, vem de longe, radicalizou-se coa ditadura de Franco e, nos últimos anos, voltou com força, nom só entre os partidos políticos centralistas, senom mesmo entre umha parte importante da nossa sociedade. Isso está aí. E eu gosto de formar parte dumha parte da sociedade que, dia a dia, com compromisso social, cultural, político e cidadão, trabalhando desde umha associaçom cultural ou vizinhal, desde a organizaçom dum festival de rock, desde a ediçom dum CD, desde a criaçom dumha empresa de alimentaçom ecológica ou desde a própria rede social (ou seja, desde muitos âmbitos), estamos a intentar que a Galiza mude económica, social e linguísticamente. Sabemos que umha das claves do desenvolvimento da Galiza é o idioma. Levamos muitos anos, desde os Reis Católicos, perdendo falantes, idioma, palavras. Mas nunca houvo tanto ativismo em defensa da língua e tanta gente coa ideia de que este país vai ir a melhor se decidimos apoiar o nosso idioma. Porque o idioma defende-nos e cria desenvolvimento.

P. Que crês que se deveria fazer para garantir a sobrevivência da língua galega?

R. Todo depende do grado de participaçom social, da força participativa da gente, da tua, que lês isto, das tuas colegas e, em geral, da cidadania. Sabemos que umha minoria radical, nacionalista espanhola, está contra o galego. Mas há muita gente que pode fazer muito pola nossa língua. Sabemos que desde o espanholismo dos Governos atuais se atua a favor do castelhano prioritáriamente. E que tenhem muitos cartos, meios de comunicaçom e empresas afins. Mas também sabemos que, se a gente aposta polo galego, como ferramenta para transformar-nos, para cambiar, esse câmbio pode ser imparável. Assim que todo depende de nós. De que um dia falemos um pouco mais galego do que se espera de nós. E outro dia, um pouco mais. E outro, um pouco mais. Nom podemos esperar que esta sociedade cambie se nós nom o fazemos. E se seguimos a fazer o que sempre figemos, imos ter o que sempre tivemos. Assim que mudar isto, nom só linguística senom socialmente, depende de todas nós. À gente que lhe vai bem nom lhe interessa que isto cambie. E essa gente já sabes que língua fala.

P. Como vês a situaçom atual da literatura galega?

R. Interessa-me muito a relaçom da nossa língua cos outros territórios onde se fala o galego internacional, isso que por aí adiante se conhece como «português». O galego-português, a nossa língua, que se fala no Brasil ou em Angola, está a dar muita qualidade literária. E a Galiza está a aportar muito ao mundo escrevendo em galego com «nh». Eu decidim escrever com «nh»: «caminho», «estrelinha», «vinho». Antes, escrevia com «ñ». Dá-me a impressom de que a literatura galega com «nh» tem a sorte de poder aproveitar o valor patrimonial, tradicional, da língua, como sempre se falou aqui, e o valor internacional, que nos comunica com mais de douscentos milhons de falantes. E aqui temos grandes escritoras, com «nh» e com «ñ». Gosto muito de Ígor Lugrís, de Lupe Gómez, de Andrea Nunes e de várias dúzias mais. A gente nova está a traer muita qualidade. E todo vai depender, claro, da saúde do idioma. Quanto menos galego fale a gente, menos língua haverá para mover o país, mais se vai empobrecer a Galiza, e mais se vai enriquecer Espanha e, principalmente, Madrid. Quanto mais gente falemos galego, mais literatura, mais música, mais cine, mais ciência, mais tecnologia imos producir, compartir em galego-português, desde a Galiza, entre nós, para nós e para o mundo.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A primeira crónica que publicamos: greve estudantil do 6-F (maio de 2013)

A primeira crónica que publicamos: greve estudantil do 6 de fevereiro de 2013 (número 1, maio de 2013).


Co Plano Bolonha, começou a atual fase de privatizaçom vertiginosa da universidade, que terá o seu apogeu na Estratégia Universidade 2015 (EU2015). Muitas das medidas desta última começam a asomar dum jeito cada vez mais escandaloso, como a suba de taxas deste ano ou os câmbios que virám de aprovar-se a «lei Wert».

Bem puidemos comprovar neste curso que seguimos pagando matrículas abusivas por um ensino que se di «público». Mas o próximo ano será ainda pior, pois entrou em vigor um enorme incremento nas taxas a partir da primeira matrícula, que se pretende justificar com cálculos irreais do preço que cada aluna lhe custa ao Estado. O resultado é que qualquera que suspenda acaba pagando umha educaçom pública a preço de privada (já que, na quarta convocatória, un curso completo sairia por uns 4 000 euros). Mália as múltiples mobilizaçons e greves estudantis, o Estado espanhol segue teimando no seu Espaço Europeu de Educaçom Superior (EEES), é dizer, a educaçom para as ricas no contexto dumha Europa cada vez mais fascistizada.

Todas estas novas medidas seguem umha linha prefixada hai tempo e respondem aos interesses actuais do capital. Ao contrário do que nos querem fazer crer, nom adotam estas medidas porque «nom hai mais remédio». O Estado moderno e de «bem-estar» que contribuiu a despolitizar às massas já esgotou o seu tempo de vida, e é a hora de apartar do ensino superior as filhas das trabalhadoras, fazendo que o custo seja cada vez mais abusivo.

Ademais, a assistência obrigatória a aulas, também na universidade desde o Plano Bolonha, fomenta a desmobilizaçom do estudantado, justo nesta época, que é quando mais se precisa. Numha situaçom como esta, as estudantes debemos dar umha contundente resposta, sair à rua e defender o que é nosso.

A pasada quarta-feira 6 de fevereiro, foi a última greve estudantil.

Esse dia, o estudantando deu a cara, e fixo-o de jeito massivo e contundente. Um paro que, nas áreas urbanas, chegou ao 90% e que foi quem de encher as ruas do país, a golpe de chuva e com cifras superiores às 10.000 pessoas (5.000 em Compostela, mais de 3.500 em Vigo, umhas 1.500 em Ourense, perto das 1.000 na Corunha ou Lugo e mais de 300 em Ponte Vedra), para exigir a retirada da maior, mais grave e mais lesiva reforma educativa nas últimas décadas, impulsada por um Governo espanhol ao ditado dos mercados.

Na nossa cidade, a manhã do 6-F, várias fechaduras de diferentes centros de ensino aparecerom saboteadas, o que impediu o passo de numerosos fura-greves.

Às doce, comezou a manifestaçom, com saída na praça da Peregrina, sob o lema «Paramos as aulas para parar a LOMQE [Lei Orgânica para a Melhora da Qualidade Educativa]». A que foi a maior mobilizaçom do estudantado de Ponte Vedra ata a data foi convocada de maneira conjunta por organizaçons estudantis e juvenis.

Ao remate da manifestaçom, na praça de Espanha, as diferentes organizaçons leron cadanseu manifesto.


Contra a privatizaçom do ensino, a luita estudantil é o único caminho!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A primeira entrevista que publicamos: Centro Social Reviravolta (maio de 2013)

A primeira entrevista que publicamos: Centro Social Reviravolta (número 1, maio de 2013).

O Centro Social Reviravolta é um espaço alternativo na cidade de Ponte Vedra (rua Gonzalo Gallas) que leva já umha andaina de dez anos. Os seus objetivos som contribuir à construçom nacional da Galiza; defender e promover a língua e a cultura galegas, o médio ambiente e os direitos da mulher, e difundir valores solidários e internacionalistas. Quase umha década de trabalho incansável realizado superando dificultades, pressons policiais, denúncias e ataques às suas instalaçons.

Pergunta. Fazedes já dez anos. Como foi possível umha década de ativismo?

Resposta. Numha associaçom autogerida, dez anos som um mundo, mas, quando contas com pessoas dispostas a sacar o CS adiante, todo é mais doado. Militância, esforço e compromisso som os piares que figerom possível que a Revira continue em pé umha década depois, e resistindo umha crise que está a levar-se por diante numerosos projetos sociais, políticos e culturais.

P. Que tipo de atividades se adoitam desenvolver na Revira?

R. As atividades que vimos desenvolvendo no nosso CS som variadas e de diferente contido. Seminários formativos, palestras históricas, roteiros que tenhem como objetivo a defensa da natureza, projeçons, jornadas internacionalistas ou pola oficialidade das seleçons desportivas galegas, recuperaçom de tradiçons como a do Apalpador ou a do Samaim, jogos populares como a bilharda, a defensa da língua... Para os vindeiros meses, temos programadas umha série de atividades que girarám em torno à reivindicaçom dos direitos fundamentais das pessoas presas, umha conferência coa cônsul da Venezuela na Galiza para que esta nos fale do presente e do futuro da Revoluçom Bolivariana, achegaremos às sócias a um novo desporto como é o futebol gaélico, coorganizaremos co CS Em Pé um roteiro pola recuperaçom da memória histórica ou umha conferência co historiador Anselmo López Carreira. O mês de maio dedicare-mo-lo à já tradicional Festa da Língua, a qual cumpre dez anos. Além, a Liga Estudantil Galega (LEG) (como outros coletivos) está a utilizar as nossas instalaçons para a realizaçom dum cineclube que terá continuidade ao longo do curso escolar.

P. Como é a relaçom com outros coletivos da cidade?

R. A relaçom que mantemos com outros coletivos da cidade é francamente boa. Consideramos que um dos motivos polos que a Revira segue em pé foi o trabalho e o contacto com outro tipo de associaçons. Vimos de trabalhar desde hai anos co CS Em Pé, coa Associaçom pola Defensa da Ria (APDR), com Touradas fora de Ponte Vedra, coa protetora de animais Os Palheiros ou mesmamente coa LEG. Os CS devem ser um espaço de trabalho para a militância, mas também para os movimentos sociais da cidade cos quales compartimos muitos objetivos que consideramos justos.